1 de set. de 2011

PASSADA A CEGUEIRA DO VELHO ERA HORA DE CONTINUAR

Tudo começou assim: tinha o documentário de plantas e o do The Doors para assistir. Confiando na amizade, optou pelo de plantas. Assistiu. Detestou. Só não contava que aquelas seriam as últimas cenas que veria em dias. Ao acordar olhou ao seu redor. Não reconheceu a velha poltrona. Não conseguia ler o livro de Pessoa que repousava em sua cabeceira. Não viu nada. O velho estava cego, graças à pressão alta nos olhos. E eu? Virei babá. Teria que cuidar dele.  Amigos servem para essas coisas. Enquanto isso, Miss Ressaquinha e Miss Artista pediam demissão.  Com a saída delas ficamos desfalcados e carentes, sofrendo um tipo de síndrome pós-abandono. Isso é normal. Toda vez que alguém sai, nos sentimos culpados e viúvos. 

Na quarta, parti para a casa do Velho. Cheguei lá e entendi o porquê da sua belíssima saúde. Abri a geladeira e só tinha água, bebida e queijo. Frutas e legumes ele não comia há meses. Primeira ação: ir ao mercado. Ele ia andando sem enxergar ao meu lado e eu ia perguntando: gosta de melão? Não. Maça? Não. Chuchu? Não. Aipim? Não. Só consegui comprar batata, banana, brócolis, laranja e limão. Isso com muita insistência. Depois do mercado, tínhamos a formatura do Mister Money e o Velho queria muito ir, pois tinha ajudado a fazer o discurso da formatura. Fomos e eu tive o meu dia de narrador.

Na sexta, fomos trabalhar no Bukowski juntos. Ele disse: você será os meus olhos. Você me diz o que vê e eu dito a cena para você. Na sexta, trabalhamos afinados. Sábado, estava dormindo pela manhã quando acordo com ele aos berros. Ele estava curado. A pressão dos olhos havia baixado e ele já estava enxergando normalmente. Abriu a janela da sala e lia cada placa na rua, cada ônibus que passava. Como recompensa me levou para comer na Lagoa. Comida saudável, já que não estou podendo beber e nem nada. Lembram: a porra da vida? Eu comendo brócolis, agrião e grelhado e ele bebendo chopp. Filho da puta (hehehe)! Te amo, Velho!  

No fim foi uma experiência ótima. Entre brigas, já que não podia deixá-lo beber, histórias que faziam a barriga doer. Ele é um cara sensacional. Eram histórias de mulheres normais; mulheres bizarras; mulheres histéricas; de porres que ele chegava em casa sem saber como; das vezes que ele foi preso e acordava na delegacia sem saber porquê; da vez que acordou nú na praia apenas com uma garrafa de vinho e alguns cigarros molhados (ele contou essa história rindo e dizendo: a merda é que os cigarros estavam molhados!); na viagem a Espanha onde ele se apaixonou perdidamente por uma mulher; da mulher esquizofrênica que ele teve e que de acordo com ele, a que provavelmente mais amou. Enfim. Um homem com muitas histórias.

Foi muito bom mesmo, Velho. Sua cegueira foi também a minha cegueira. Com muito prazer, mas sem sexo (hehehehe). Isso só ele vai entender. Desculpem. Ah... Já ia me esquecendo. Já estamos curados da síndrome e com mais dois personagens: Miss Hiper e Mister Bicho. Miss Hiper, entrou na semana passada. Meio doida, mas inteligente e bem sensível por mais que não pareça no primeiro momento. Na verdade, pensei em mandar ela embora umas cinco vezes em uma semana, mas agora estou encantada por ela. Mister Bicho entrou essa semana. É o grande novato do grupo. Sem muito que dizer por enquanto, mas parece gente boa. Eu ando bem. Estou conseguindo andar na linha, mas não é fácil. Nada é fácil, mas ninguém disse que seria fácil.

Beijos e até breve. Porque estou cheia de coisas para contar,

Miss J.   


Um comentário:

Bruno Costa disse...

Gosto da maneira politicamente incorreta, da postura boemia dos textos. Coloquei o link do blog no meu. Adoro o bar!